“Um velho sábio morava no alto de uma montanha. Muito respeitado em todo o povoado, era bondoso, pacífico e tinha sempre um bom conselho para dar. Um dia, chegou ao vilarejo um forasteiro que logo armou confusão na hospedagem onde ficou, no restaurante em que almoçou, no bar onde foi beber. Foi expulso de todos os lugares, mas recusava-se a partir da cidade. Os moradores reuniram-se, foram até ele e lançaram um desafio: se conseguisse tirar do sério o velho sábio, mestre dos mestres, poderia ficar e por ali se instalar. Caso contrário, iria embora e nunca mais voltaria. O orgulhoso guerreiro deu uma gargalhada e aceitou o trato.
Cercado de seus discípulos, o mestre palestrava quando o jovem chegou cheio de si, interrompendo a conversa e armando confusão. Ao longo de toda a manhã, xingou, ofendeu, esbravejou, ridicularizou, ironizou, desmereceu o velho sábio. Tarde adentro, gastou seu arsenal de impropérios e, quando a noite caiu, chegou próximo a um combate físico. E o velho lá, contemplando-o, impassível. Ao raiar do dia, desmoralizado, o baderneiro desapareceu e dele nunca mais se teve notícia.
Os discípulos logo acercaram o bom homem, querendo saber: “Mestre, como o senhor consegue resistir a tantas ofensas sem se abalar? Ele denegriu o seu nome, cuspiu no seu brasão, difamou sua inteligência, qual o segredo para não revidar?”. O mestre respondeu com uma pergunta: “Quando alguém lhe dá um presente e você não aceita, com quem fica o pacote?”. Com a pessoa que o ofertou, concluíram. “Pois assim se dá também com as palavras, os gestos e atitudes. Se você não aceitá-los, não são seus. Ficarão com quem os proferiu”.
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